A Federação Nacional dos Médicos (FNAM), em colaboração com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, apresenta os resultados de um estudo nacional que denuncia o impacto severo e prolongado da pandemia de COVID-19 na saúde mental dos médicos em Portugal.
Este trabalho de investigação, realizado entre janeiro e fevereiro de 2025, contou com a participação voluntária e anónima de 130 médicos, após divulgação promovida pela FNAM. O objetivo principal foi avaliar os níveis de burnout, stress pós-traumático, ansiedade, depressão e ideação suicida nesta classe profissional altamente exposta ao desgaste extremo durante a crise pandémica.
Os resultados são preocupantes:
- 28% dos médicos apresentam burnout elevado
- 47% registam níveis elevados de ansiedade
- 39% revelam depressão elevada
- 34% apresentam trauma psicológico intenso
- 10% admitem ter tido ideação suicida
Além disso, 44% dos médicos avaliam atualmente a sua saúde psicológica como má, e 45% relatam um agravamento face ao período mais intenso da pandemia.
O estudo demonstra que ansiedade e depressão são fortes preditores de burnout, enquanto o stress pós-traumático e a ideação suicida influenciam-se mutuamente. Não se encontraram diferenças significativas associadas ao contacto com doentes COVID-19, mas observam-se valores mais elevados de sofrimento em médicas, profissionais com jornadas prolongadas e aqueles que já pediram ajuda. Destaca-se que 76% dos médicos relataram que sua jornada semanal excedia o tempo previsto de trabalho, principalmente devido a burocracias, elevada carga assistencial e falta de médicos.
Os relatos recolhidos reforçam o impacto de momentos traumáticos vividos durante os primeiros meses da pandemia e evidenciam um sofrimento psicológico persistente, com queixas contínuas de exaustão emocional acumulada. A FNAM sublinha que o Serviço Nacional de Saúde deve proteger devidamente quem esteve, e continua a estar, na linha da frente.
Apesar das limitações do estudo – como o número reduzido de participantes e a sua distribuição geográfica – este trabalho é um alerta incontornável: os médicos sofrem com o desgaste físico, emocional e mental da sua profissão.
A FNAM reforça: é urgente cuidar de quem salva vidas.