A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) alerta que as opções do governo liderado por Luís Montenegro estão a fragilizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), agravando a perda de médicos, a instabilidade das equipas e a capacidade de resposta assistencial à população.

A FNAM tem vindo a identificar um padrão consistente: os territórios onde o SNS enfrenta maiores dificuldades de funcionamento — marcadas pela falta de médicos, escalas incompletas, encerramento ou limitação de serviços e sobrecarga dos profissionais — coincidem com aqueles onde o setor privado da saúde tem vindo a anunciar investimentos de grande dimensão, sobretudo na abertura de novas unidades.

Este fenómeno ocorre num contexto em que o SNS continua sem uma estratégia estruturada de planeamento e valorização dos seus recursos humanos, condição essencial para garantir a continuidade e a qualidade dos cuidados de saúde.

Investimentos privados anunciados

De acordo com informação pública, os principais grupos privados anunciaram os seguintes investimentos:

  • CUF – 602 milhões de euros
    Investimentos em equipamentos, tecnologia, sistemas de informação e infraestruturas, incluindo 55 milhões de euros no Barreiro e um plano de 500 milhões de euros até 2030.
  • LUSÍADAS – 112,2 milhões de euros
    Investimentos em Gaia, Leiria e Carregado, a que acrescem 60 milhões de euros já aplicados na região Norte.
  • LUZ – 688 milhões de euros
    Investimentos em Inteligência Artificial e novas unidades em Setúbal, Seixal e Santarém.
  • TROFA – 180 milhões de euros
    Investimentos na Maia, Penafiel e Aveiro.

No total, os investimentos privados anunciados rondam os 1.582 milhões de euros.

A FNAM sublinha que estes dados não constituem, por si só, um problema, mas revelam a ausência de uma política pública eficaz de planeamento do serviço de saúde e de valorização do trabalho médico no SNS.

Enquanto o setor privado expande a sua capacidade, o SNS continua a enfrentar dificuldades na fixação de médicos, na estabilidade das equipas e na organização dos serviços, situação que compromete a resposta assistencial, em particular nas regiões mais carenciadas e nos serviços mais exigentes, como os serviços de urgência, a saúde materno infantil e os cuidados de saúde primários.

A FNAM alerta ainda para o impacto destas opções na crescente pressão sobre os profissionais do SNS, agravando a sobrecarga laboral, a precariedade e a desmotivação, fatores que contribuem para a saída de médicos do serviço público.

Para a FNAM, garantir o direito à saúde passa necessariamente por uma política de recursos humanos séria, baseada na valorização da carreira médica, na negociação efetiva com a FNAM e na criação de condições de trabalho que permitam reter médicos no SNS.